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Estudante de Comunicação Social - Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia.

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O ódio do feminino: o caso da aluna da UNIBAN‏

Postado por Amanda terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A contribuição de hoje veio por e-mail no mês de novembro de 2009. Trata-se de um texto de Contardo Calligaris, psicanalista e colunista da Folha de S. Paulo, que discorre sobre o caso da aluna da Universidade Bandeirante, Geysi Arruda, hostilizada por estudantes da Universidade, por se vestir da maneira que deseja.


NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.

O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça.
Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.

A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".

Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.

Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".

Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia.
Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.

Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".

Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.

Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.

O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.

A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.

Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?

Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.

4 comentários

  1. Anônimo Says:
  2. "O ÓDIO DO FEMININO" esta é a pior das paranóias feministas que já vi!

     
  3. Anônimo Says:
  4. amanda discordo de vc, ela nao precisava ir vestida daquele jeito, alias ela parecia o que os colegas dela falaram mesmo, ela ja tinha sido avisada, entao ela o fez pra provocação, e mereceu o que recebeu, faço faculdade e nunca fui vestida assim, sou baladeira e so me visto assim pra sair, nao vou a faculdade pra chamar atenção, vou pra estudar, alguem tinha que explicar pra essa estudante como se vestir e se comportar, pelo que vi ela é ignorante nisso.

     
  5. Amanda Says:
  6. Oi Anônimo 1,

    Por que vc considera esta máxima do preconceito uma paranóia? Gostaria de entender...

     
  7. Amanda Says:
  8. Anônimo 2,

    Este espaço é aberto à discussão, e entendo que discorde de mim, pois a educação a que fomos submetidas nos coloca no papel sempre de culpadas, isto até mesmo quando de forma simples desejamos algo que vá a favor das nossas vontades e contra as convicções sociais.
    Não acho que a aluna merecia uma "punição", afinal o que ela fez de errado? Ela tinha sido avisada do que, de que não poderia se vestir como se sentisse melhor? E os alunos possuem que tipo de autoridade para condená-la (embora nem que tivessem pudessem intervir desta forma)? Existe um código ético de vestimenta social para as mulheres? O conveniente então é nos vestirmos com burcas para não causarmos incômodo aos homens que nos enxergam como objetos sexuais e por isto se sentem provocados?
    Estas são algumas questões deste episódio que merecem reflexão.

     

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BIBLIOGRAFIA


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COELHO, Texeira. O Que é Indústria Cultural. São Paulo: Brasiliense, 2003.


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RAGO. Margareth. Epistemologia Feminista: gênero e Historia IN Masculino, Feminino, plural. Florianópolis: Mulheres, 1998.


SOIHET, Rachel. Historias das mulheres. Disponível em: . Acesso em: 05 de Dezembro de 2009, 21:00h.